"Quanto é que ganha? "Durante muito tempo tabu, o tema dos salários está agora a ganhar espaço nos espaços abertos e nas pausas para café. E encontra um terreno particularmente fértil nos ambientes de trabalho flexíveis, onde as hierarquias são mais planas e as equipas frequentemente híbridas. Num contexto de procura de equidade, de tensões no mercado de trabalho e de novas expectativas sociais, a transparência salarial está a tornar-se uma questão incontornável. Exigida pelos trabalhadores e impulsionada pelas novas formas de trabalho, a transparência salarial está a tornar-se gradualmente uma exigência. É uma revolução cultural, mas com efeitos ambivalentes... Nós contamos-lhe tudo!

Transparência salarial: uma alavanca contra a desigualdade

Desde as empresas em fase de arranque até às grandes empresas, algumas organizações publicam atualmente as suas tabelas salariais por tipo de função, e mesmo os salários individuais, nomeadamente para as equipas de gestão e os quadros superiores. O objetivo: maior equidade, maior clareza, maior coerência com uma cultura empresarial em mutação. Mas a transparência salarial, embora atraente no papel, está longe de ser uma solução universal.

Para os seus defensores, a transparência é, antes de mais, um instrumento de justiça social. Ao tornar os salários visíveis, põe em evidência as discrepâncias salariais injustificadas, quer estejam ligadas ao género, à origem ou ao estatuto. E obriga as empresas a reverem as suas práticas. Mas, na realidade, as coisas são muitas vezes mais matizadas e confrontar a transparência salarial pode ser uma tarefa árdua.

"Num ambiente de trabalho aberto e horizontal, torna-se difícil justificar discrepâncias arbitrárias", explica Sophie, diretora de RH de uma empresa tecnológica sediada num espaço de coworking em Lyon. "A transparência salarial anda de mãos dadas com uma cultura de feedback e colaboração. "

Espaços flexíveis, novas expectativas

Esta procura de transparência é também impulsionada pela própria evolução dos espaços de trabalho. O desenvolvimento do coworking, do teletrabalho e dos escritórios partilhados está a transformar a dinâmica interna. Os trabalhadores, muitas vezes mais móveis e autónomos, e menos ancorados na lógica de um escritório "vitalício", esperam que os seus empregadores comuniquem de forma clara, direta e coerente os critérios de reconhecimento e remuneração.

Nestes ambientes, onde as fronteiras são mais ténues, a transparência torna-se uma condição de confiança. " Quando se partilha o mesmo espaço, mas não as mesmas regras, a opacidade pode rapidamente criar mal-estar", analisa um consultor organizacional. Daí a importância de estabelecer um quadro explícito, incluindo para os salários.

O outro lado da moeda no que respeita à transparência salarial

Mas a transparência tem as suas zonas cinzentas. Mal preparada, pode gerar tensões, expor preconceitos de gestão ou congelar as margens de negociação. Algumas empresas receiam também que a uniformização dos salários comprometa a flexibilidade necessária para atrair talentos raros ou específicos.

Além disso, as comparações constantes entre colegas, sem uma explicação detalhada das diferenças, podem desestabilizar equipas anteriormente serenas. " Não basta publicar números: é preciso que sejam acompanhados de um verdadeiro esforço de educação", adverte um especialista em RH. Para Antoine, gestor, "o tema do salário e dos prémios é sempre delicado, uma vez que influencia a motivação e o empenho da equipa".

Em vez de se oporem à opacidade e à exposição total, algumas empresas adoptam uma abordagem gradual da transparência: publicação das gamas por posto de trabalho, critérios de desenvolvimento claramente definidos, diálogo reforçado entre as chefias. Esta estratégia adapta-se particularmente bem às estruturas flexíveis, onde a agilidade exige também uma cultura de empowerment.

A transparência não substitui a confiança, mas constrói-a. E nos espaços de trabalho partilhados ou híbridos, esta confiança é essencial para o trabalho em equipa.

Uma questão de equilíbrio?

A transparência salarial é uma boa ideia? Claro que sim. Desde que seja implementada com método, diálogo e educação. Não é um fim em si mesmo, mas um indicador de maturidade organizacional. E faz parte de uma transformação mais ampla: a de um mundo do trabalho mais fluido, mais horizontal, com valores mais exigentes.

Números-chave :

68% dos trabalhadores acreditam que a transparência salarial reforçaria a sua confiança no empregador(GLASSDOOR, 2024)

34% das empresas receiam que o alisamento salarial prejudique o desenvolvimento dos trabalhadores com base no mérito, o que poderia igualmente conduzir a um aumento das contestações das avaliações de desempenho(MICHAEL PAGE, 2025)

8 em cada 10 executivos consideram que a transparência salarial é positiva, mas as empresas são mais mistas, com 45% a recear repercussões negativas.(ROBERT WALTERS, 2025)

Entre um desafio de igualdade, uma alavanca de coesão e uma ferramenta de transformação cultural, a transparência salarial está a tornar-se inevitável, especialmente num mundo de trabalho onde a flexibilidade se tornou a norma. Resta ancorá-la num quadro claro, justo... e humano.

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